Cartas Para James

Pegamos o melhor vinho que tínhamos no quarto, duas taças e andamos pelas ruas de Paris, saboreando o vinho, vendo lugares e pessoas diferentes. Se eu soubesse que aquele seria a última noite depois de anos juntos eu teria o abraço mais apertado, teria tocado seu corpo mais intensamente, ele já planejava aquela briga? Planejava ir embora? Não, eu nunca soube disso, se ele conheceu outra garota ao caminho da padaria para comprar nosso café da manhã, olha o que ele fez comigo, me fez escrever meses sobre tudo o que vivemos, aquela cama que era o meu aconchego e eu não poderei mais deitar, aquele corpo que não me deseja mais todos os dias, as verdades que nesse exato momento minha mente as calculou como mentiras, quando tudo se acaba é difícil em pensar nos momentos bons que se viveu, você pensa logo nos momentos em que ele não poderá estar por perto, nos momentos em que você vai se encontrar sozinha, será que o que eu pensava quando era pequena vai acontecer verdadeiramente? Um apartamento cheio de móveis com uma dona vazia? Vinho e notebook sobre a mesa, sim eu estou aqui, vazia, preenchendo essas páginas do Word com minha dor, tentando confortar meu próprio coração, aquele que nem mesmo eu tenho direito de comandá-lo, tudo era imprevisível e estava acabando. O fim chegou.

Ninguém nessa terra foi capaz de encontrar um método para tirar a tristeza do fundo do ser e ser feliz, é por isso que eles nos dopam de remédios, para podermos encontrar a paz que não encontramos quando estamos cientes.

— Quem sabe um dia eu escreva sobre esses momentos.

— Qual seria o nome do livro?

— “Cartas Para James”, que tal?

— Perfeito, mas e se eu for um desastre nessa história?

— O amor por si só é um desastre e se for um desastre vai ser o desastre mais lindo que tive na minha vida.

— Eu amo você mais que tudo nessa vida, Saffie. —falou enquanto fazia círculos com seu dedo na minha barriga.

— Eu também amo você, está fazendo cócegas. — falei, entrando em uma gargalhada gostosa.


Ele me fez cócegas e entre cócegas e beijos nos declaramos, fizemos amor e como todas as outras vezes o dia se foi sem percebemos. Era um amor Frugal, perene, como dizem um amor pachorrento, calmo, sereno e acomodado. Não era somente da presença um do outro que vivíamos, era o amor que nos fazia permanecer intactos em relação ao que sentíamos, foram os momentos mais lindos que eu pude viver, não tinha um dia se quer que um sorriso não surgisse em meu rosto, minhas bochechas chegavam a doer de tanta felicidade, eu era feliz ao lado daquele homem, Deus havia me dado a oportunidade de ser feliz e minha alma se machucava automaticamente só de imaginar que um dia eu poderia perdê-lo.

Eu nunca mais ouvi os sons dos seus passos dentro de casa, acho que esqueci até da sua voz. Pensei que você seria o único que estaria aqui quando todos fossem embora. Uma voz ecoa na minha mente o que você falou “Até amanhã”, eu esperei dias e noites, trancada dentro do meu quarto, sem se quer um raio de luz ultrapassando minhas cortinas, eu esperei anos e esse “Até amanhã” nunca chegou.

Todos têm o seu tempo determinado para curar-se, eu posso curar-me de uma dor amanhã e você passar anos sofrendo por essa dor, tentando se curar, enquanto ouvirá de outras pessoas “Nossa, faz tanto tempo, você já deveria ter se recuperado”, não é um treinamento, é uma recuperação, não é uma corrida, é um encaminhamento, não compare sua recuperação com a de outras pessoas, elas não são você, nenhum ser humano sente o que o outro sente, não importa se já teve experiência em algum assunto que o outro esteja passando, você só vai sentir se você passar pela mesma coisa. Vai haver momentos em que todos vão olhar para você e te julgar por você ainda não ter se recuperado pelo “amor de três anos atrás”, continue sua recuperação, só você mesmo sabe o tempo que precisa para curar-se e mesmo não sabendo desse tempo, continue, não desista! Não importa se o processo for lento ou rápido demais, o importante é que você se recupere para poder voltar a sorrir de novo.